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Meteorographica dos textos: do núcleo da terra à ionosfera

Publicado em 1859, “A origem das espécies” é um dos livros acadêmicos mais conhecidos no mundo, mesmo para quem não é da área este título - e ainda mais o seu autor Charles Darwin - remetem a algum tipo de informação, mesmo que seja a simples afirmação de que já ouviu falar sobre o livro.

O que muito menos se sabe é que Darwin tinha um primo chamado Francis Galton. Semelhante ao estilo polímata do século XVII, Galton escreveu livros sobre temas bastante distintos como a meteorologia e na esteira de seu célebre primo sobre genética. Porém, suas contribuições científicas de mais longa duração estão na área de estatística. Em suma Galton era um homem obcecado por busca de padrões.

No entanto Galton é o criador da non grata palavra Eugenia, um neologismo do grego que significa bem nascido. Isso coloca Galton como pioneiro neste campo e um dos principais autores do Darwinismo Social

Seu livro mais polêmico, justamente por conter o termo Eugenia pela primeira vez, se intitula Inquiries into Human Faculty and Its Development publicado em 1883, apenas um ano após a morte de Darwin. Mas é em Meteorographica que Galton cria esquemas e signos de representação de fenômenos meteorológicos como um céu nublado intensidade dos ventos, das chuvas e os níveis de pressão atmosférica. Seus princípios até hoje são utilizados na Meteorologia. Mas quem é Francis Galton para esta ciência? Não muito mais do que uma nota de rodapé. Semelhante é a sua posição na estatística, onde figura como “figura histórica”.

Na Biologia e na área da Saúde de maneira geral é um autor pouco trabalhado, a quem cabe um ostracismo e esquecimento em muitos pontos intencional, afinal, Galton é o criador da Eugenia, campo desqualificado cientificamente, mas não categorizado desta maneira no fim do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, que impulsionou práticas e políticas públicas nefastas, sendo os exemplos mais latentes as atrocidades perpetradas na Alemanha Nazista.

A difusão bibliográfica de Galton, mesmo atuando em várias frentes, foi muito distinta de seu primo, que ainda é estudado em grande escala pela sua área. Existem autores de um passado remotíssimo que ainda continuam “muito vivos”. A Filosofia é a que mais oferece exemplos de destaque como os famosos Platão, Sócrates e Aristóteles. A História evoca com frequência autores como Tucídides, Plínio e Heródoto. Os estudos literários também têm seus grandes nomes como Homero e Eurípides. E até a matemática referencia em grande escala o famoso filósofo Pitágoras.

Este último autor já goza de uma permanência mais estagnada como Newton, não é preciso ser especialista em física para saber que é um autor respeitadíssimo, mas não conta com um número de trabalhos acadêmicos sendo publicados ano após ano em equivalência a sua relevância. O que é uma afirmação que pode ser considerada contraditória, já que, não é porque Newton não é estudado diretamente ou citado com frequência que suas obras estejam ausentes na produção de conhecimento de diversas áreas, mas um autor que se embasa em Newton não precisa citá-lo.

Outros autores simplesmente desaparecem, ou são estudados em áreas distintas das que atuavam. Ptolomeu ainda detém algum tipo de fama, mas autor de tamanha importância para a astronomia, navegação e cartografia está desatualizado em alguns quesitos em pelo menos cinco séculos. Mas e o “em geral” desconhecido Johannes de Sacrobosco? Este homem pode ser considerado como um dos introdutores do uso dos algarismos arábicos na Europa. Além disso, produziu um livro denominado o Tratado da Esfera, publicado, utilizado e debatido com intensidade por mais de 500 anos.

Em Biblioteconomia & Ciência da Informação, respeitando as devidas proporções, existem autores nas mais diversas fases. Dewey, Otlet, Shera e o mais antigo Naudé, são nomes mundialmente vivos nas discussões destas áreas. Mas e Peignot? Ou Martin Schrettinger? Sem contar com os brasileiros Ramiz Galvão, Borba de Moraes e Nery da Fonseca.

Estariam eles soterrados? Mas em que nível? A terra é dividida em várias camadas até a superfície, esta área é estudada pela Geologia. Da superfície para cima a Meteorologia dá conta da porção de ar e eventos ligados/gerados ao planeta. Os que estão e cima se voltam para a superfície, os que estão no centro também se expelem para a superfície.

É nesta metáfora meteoro-geológica que circulam todos os textos de todos os autores de qualquer área em constante mudança de direção, ou como evidenciado por Bourdieu o campo científico é um espaço de lutas, onde a superfície é o palco. No entanto, cabe aqui uma reflexão Darwinista como ocorre a “seleção natural” dos textos?

Algumas fontes

BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155

DARWIN, Charles. On the origin of species: by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. London: John Murray, 1859.

Publicações completas de Darwin: http://darwin-online.org.uk/

GALTON, Francis. Inquiries into Human Faculty and its Development. London: Macmillan, 1883.

GALTON, Francis. Meteorographica. London: Macmillan, 1863.

Publicações completas de Galton: http://www.galton.org/books/

SACROBOSCO, Johannes de. Tratado da esfera. São Paulos: UNESP,1991.

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