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FORTES DA GUERRA SIMBÓLICA: notícias africanas da longa “guerra discursiva” da diplomacia cultural

La Bibliothèque c’était le Monde pris dans un miroir;

elle en avait l’épaisseur infinie, la variété, l’imprévisibilité.

Jean-Paul Sartre

Les Mots


O domínio dos “estudos internacionais” na Ciência da Informação não ocupa um grande espaço nas páginas dos periódicos científicos. Precisamente, no contexto latino-americano, tanto os estudos comparados quanto os “internacionais” não demarcam um campo avançado de reflexão. Seja hoje, nos encontros ibero-americanos do EDICIC e nos eventos da ANCIB, seja ontem, nos momentos que antecedem a formalização das instituições do campo na América Latina, pouco se percebe do foco em tais estudos.


O relevante na identificação de tal ausência é compreender que existe, ao longo do século XX, nos “países subdesenvolvidos”, principalmente na África, na Ásia e na América Latina, o desenvolvimento rápido de uma “guerra discursiva” em torno da “diplomacia cultural”. O conceito responde, em linhas gerais, pelos esforços governamentais para transmissão de sua cultura nacional, através de instituições de “extensão exaustiva do ideal nacionalista”, como parte objetiva de um projeto de maior de expansão política e econômica. Em um sentido crítico, estamos diante de um objeto filosófico-político dos estudos internacionais, fundamental para um visão sócio-histórica da atuação da linguagem, da organização dos saberes e dos artefatos informacionais em nosso contexto.

Na África, observando o conceito e sua aplicação no Senegal, Maack (2001) chama a atenção para o nascimento, o crescimento e as formas de “ocupação” da Alliance Française, nascida em 1883, do British Council, de 1934, e do Office of War Information (OWI), posteriormente United States Information Agency (USIA). Respectivamente, França, Inglaterra e Estados Unidos empreendem esforços comuns para “ocupação” simbólica, em geral, relacionada com formação em línguas, bibliotecas e serviços biblioteconômicos, programas culturais e doação de livros.

Os sofistas já haviam percebido, na reviravolta entre natureza e linguagem da Grécia do Século V a.C., como linguagem e política, retórica e sociedade, eram elementos indispensáveis para invenção da cidade. É interessante observar as manobras, as táticas de “ocupação”, os acordos transnacionais com as nações “ocupadas”, o uso dos artefatos informacionais como armamento de propagação de ideologias. As formas relatadas por Maack (2001) de elaboração da “guerra” da diplomacia cultural oferecem categorias para a análise do domínio e a exploração de um solo crítico para os estudos internacionais. Os movimentos “bélico-culturais” de tais instituições no Brasil podem sugerir semelhanças e diferenças com aqueles tecidos na África. Tais “ocupações” simbólicas colocam em foco os conceitos de “guerra” e “diplomacia” e inspiram uma dialética complexa sobre os usos contemporâneos de “redes sociais (privadas)”, como Facebook, e outras ferramentas de bombardeio cultural no contexto digital. Seriam os livros minas terrestres de mutilação cultural? Seria a língua o composto atômico de destruição em massa? A terceira guerra mundial não é a própria guerra absconsa da diplomacia cultural digital?



Fontes:


CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MAACK, Mary Niles. Books and libraries as instruments of cultural diplomacy in francofone Africa during the Cold War. Libraries & the Cultural Record, v. 36, n. 1, win., p. 58-86, 2001.

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