É DE FATO SOCIAL A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO?
O que, de fato, é o “social” dentro do informacional? Quando este “social” é (ou torna-se) “sociológico” ? É a CI que precisa se afirmar como “ciência social” ou o seu modo de pensar deve se colocar, informacionalmente, como lente para o “social” ?
As tentativas recentes (pós-anos 1960) de tratar uma “ciência da informação” como uma “ciência social” é, desde seu primeiro momento, antes de uma justificativa para o nascimento de uma concepção sócio científica de um domínio do conhecimento, a preocupação de um “devir” difuso e-ou esvaziado, o risco de perda de sentido e, mesmo, de extinção de um saber, espraiado em suas relações interdisciplinares. Em outras palavras, a procura por uma afirmação do “social” como aquilo que “epistemologicamente” fundamenta o “informacional” representa uma profunda luta pelo apagamento de um âmbito dos estudos sociais da informação e pela sua reconfiguração como “ciência dura”.
O percurso de ressignificação de conceitos na CI depende, em nossa visão, de uma epistemologia histórica capaz de compreender a produção conceitual anterior e em curso que se estabelece sob o ponto de vista do informacional, e não do “social sociológico” como um “outro”, como a margem oposta. Trata-se da provisão necessária para compreender os conceitos “sociológicos” à luz do universo informacional.
Outro ponto importante é perceber, ainda dentro da epistemologia histórica, como personagens como Otlet, se apropriaram de conceitos de nomes como Tarde e Durkheim para construir suas interpretações da realidade social. Constatamos, pois, que uma das margens centrais para a compreensão das abordagens sociais na Ciência da Informação está, antes, no reconhecimento, a partir de uma epistemologia histórica, das condições sociais de fundamentação do campo e de sua apropriação a partir de uma tríade dimensional sobre o “social”: a) aquele da “sociedade” como fenômeno no qual o campo está inserido; b) aquele “operacionalizado” a partir das “lentes” dos estudos informacionais; c) aquele “retirado” da construção sociológica, outra seja, “social-epistêmico”, já constituído como um construto reflexivo para analisar o próprio social.
Algumas fontes
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